A História da música e a tecnologia
Uma das razões do conceito difundido de que história da música
refere-se apenas à música ocidental é a grande quantidade de obras
existentes que tratam apenas desta vertente e predominaram por muitos
séculos. Apenas após o surgimento da etnomusicologia (uma área da etnologia), foi que as origens da música não européia passaram a ser mais bem documentadas.
Nos estudos da música primitiva que tentam relacionar a música às culturas que as envolvem, há duas abordagens prevalecentes: a Kulturkreis da "Escola de Berlim" e a tradição norte americana da área cultural. Entre os adeptos da Kulturkreis está Curt Sachs,
que analisou a distribuição de instrumentos culturais de acordo com os
círculos culturais estudados por Gräbner, Schmidt, Isadora e Preuss,
entre outros, e descobriu que as distribuições coincidiam e estavam
correlacionadas. De acordo com esta teoria, todas as culturas passam
pelos mesmos estágios e as diferenças culturais indicam a idade e
velocidade de desenvolvimento de uma dada cultura.
A teoria da área cultural, por outro lado, analisa a música de acordo
com as regiões nas quais as pessoas compartilham a mesma cultura, sem
atribuir a essas áreas um significado ou valor histórico (por exemplo,
todos os Inuit tradicionais possuíam um caiaque,
um traço comum que define a área cultural Inuit). Em cada uma das
teorias, as regiões definidas necessariamente se interceptam, com
pessoas que compartilham partes de mais de uma cultura, permitindo a
definição dos centros culturais pela análise de seus limites. (Nettl
1956, p.93-94)
A etnologia analisa e documenta as manifestações culturais oralmente e
as correlacionam às suas regiões para determinar a história de cada
cultura. Isso inclui todas as manifestações artísticas, inclusive a
música.
A música na pré história
Somente através do estudo de sítios arqueológicos podemos ter uma
idéia do desenvolvimento da música nos primeiros grupos humanos. A arte rupestre encontrada em cavernas
dá uma vaga idéia desse desenvolvimento ao apresentar figuras que
parecem cantar, dançar ou tocar instrumentos. Fragmentos do que parecem
ser instrumentos musicais oferecem novas pistas para completar esse
cenário. No entanto, toda a cronologia do desenvolvimento musical não
pode ser definida com precisão. É impossível, por exemplo, precisar se a
música vocal surgiu antes ou depois das batidas com bastões ou
percussões corporais. Mas podemos especular, a partir dos
desenvolvimentos cognitivos ou da habilidade de manipular materiais,
sobre algumas das possíveis evoluções na música.
Na sua "História Universal da música", Roland de Candé nos propõe a seguinte seqüência aproximada de eventos:
- Antropóides do terciário - Batidas com bastões, percussão corporal e objetos entrechocados.
- hominídeos do paleolítico inferior - Gritos e imitação de sons da natureza.
- Paleolítico Médio - Desenvolvimento do controle da altura, intensidade e timbre da voz à medida que as demais funções cognitivas se desenvolviam, culminando com o surgimento do Homo sapiens por volta de 70.000 a 50.000 anos atrás.
- Cerca de 40.000 anos atrás - Criação dos primeiros instrumentos musicais para imitar os sons da natureza. Desenvolvimento da linguagem falada e do canto.
- Entre 40.000 anos a aproximadamente 9.000 a.C - Criação de instrumentos mais controláveis, feitos de pedra, madeira e ossos: xilofones, litofones, tambores de tronco e flautas. Um dos primeiros testemunhos da arte musical foi encontrado na gruta de Trois Frères, em Ariège, França. Ela mostra um tocador de flauta ou arco musical. A pintura foi datada como tendo sido produzida em cerca de 10.000 a.C.
- Neolítico (a partir de cerca de 9.000 a.C) - Criação de membranofones e cordofones, após o desenvolvimento de ferramentas. Primeiros instrumentos afináveis.
- Cerca de 5.000 a.C - Desenvolvimento da metalurgia. Criação de instrumentos de cobre e bronze permitem a execução mais sofisticada. O estabelecimento de aldeias e o desenvolvimento de técnicas agrícolas mais produtivas e de uma economia baseada na divisão do trabalho permitem que uma parcela da população possa se desligar da atividade de produzir alimentos. Isso leva ao surgimento das primeiras civilizações musicais com sistemas próprios (escalas e harmonia).
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